Evangelion - O mistério, a obra, o recomeço!

Primeiro post de uma série de 5. Quem é fã ou simplesmente tem curiosidade de entender mais sobre Evangelion, precisa ler essa matéria. Se você não gosta de “spoilers” e não viu a série, sugiro que não leia os tópicos sobre Evangelion e seus mistérios daqui em diante.

Evangelion causa as mais diversas reações, sendo muitas delas de pura insatisfação. O anime, considerado por muitos críticos, um dos melhores já produzidos, carrega consigo o fardo de ser o primeiro a tratar de problemas existências com profundidade, tendo deixado de lado aquilo que torna um típico anime shounen atrativo.

Embora seja um anime destinado a adultos, não quer dizer que deveria ser só e simplesmente só direcionado a uma temática tão irritante e muitas vezes depressiva. Antes que me acusem de ser mais um desses fanboys chorões, eu tenho a plena convicção de que EVA poderia ter sido melhor. A proporção que a história ganha, injetando doses homeopáticas de suspense em torno do enredo como o fato de ser pioneiro ao apresentar no gênero mecha algo inovador, não quer dizer que o desenvolvimento poderia ser tão experimental. Eva pode ser uma das piores coisas já feitas no ramo da animação, mas foi responsável por ajudar na popularização do gênero Anime no mundo. Com sua premissa ótima e final controverso, vejamos o que a Gainax tem a nos mostrar, reconstruindo o universo do maior de todos os caça níqueis.

A série e seus criadores

O japonês Yoshiyuki Sadamoto é designer de personagens, mangaka, e um dos membros fundadores do estúdio de animação Gainax. Desde o início dos anos 1990, seu trabalho de animação consistiu sobretudo no desenho de personagens e fiscalização das principais animações da empresa, muitas dessas produções de baixo orçamento, com pouca repercução na mídia, sendo algumas consideradas medíocres. Ele participou de vários projetos, até então ser encarregado, em 1995, de desenhar os personagens do mais novo projeto de sua empresa.

Yochiki Sadamoto

Em fevereiro de 1995 a Gainax pública o que seria o "Chinese Democracy" dos mangas (o negócio é que o CD do Guns já foi lançado). Neon Genesis Evangelion era lançado de carona no gênero mecha (muito famoso no Japão), se tornando um fenômeno imediato, meses depois, com a criação de uma versão animada.

Por motivos de economia cenas eram feitas com os personagens falando de costas ou com a imagem parada em um objeto enquanto falavam. Outra técnica, foi fazer cenas escuras o que acabou deixando um ar frio e dark à produção. O roteirista Yoshiyuki Sadamoto resolveu fazer uma série com um começo simples e acabou se tornando uma das tramas mais complicadas dos anos 90. Ou seja, falhas técnicas ajudaram a popularizar o desenho.

No começo pensou-se em mostrar a vida dos personagens e as batalhas externas que eles enfrentam contra os inimigos. Mas como na época Hideaki Anno, diretor da série animada estudava filosofia e psicologia, resolveu mudar o pensamento, e nos 10 episódios seguintes aproveitando a ótima audiência da série, resolveu mostrar as batalhas internas de cada ser humano nas diversas fases da vida. E, assim, uma série que no começo parecia mais uma entre tantas do gênero Mecha, virou um clássico.

Hideaki Anno

Hideaki Anno, então, assumiu a direção do anime e  de quase tudo relacionado a série daí por diante.

Nos 14 primeiros episódios somos apresentados a NERV, uma instituição criada pela ONU. Estamos em 2015, em Tóquio-3. Supervisionando a NERV temos a SEELE, uma organização misteriosa e composta por 12 homens, a quem não vemos os rostos. 

Em meio a isso, surge um novo piloto para os robôs de combate da NERV, o jovem Shinji, que tem de proteger a Terra do ataque de misteriosas criaturas do espaço. Gendo, o responsável pela NERV, é seu pai, com quem ele não se dá bem e, portanto, vai morar na casa de sua comandante Misato, que tem na sua colega de trabalho, Ritsuko, sua “melhor” amiga. 

Aos poucos conhecemos os colegas de escola de Shinji e sua nova companheira de combate na NERV, Asuka, assim como a misteriosa piloto Rei. Para criar o triângulo amoroso com Misato e Ritsuko, surge Kaji, que é do Departamento Especial de Investigação. Você pode estar pensando que se trata de uma trama simples, certo? Errado!

Após o capitulo 14 (e as viagens de seu autor pela psicologia), descobrimos outra trama completamente diferente. No ano 2000, fim do segundo milênio (considerada na época a data do fim do mundo), a Terra é vitima de um meteoro – pelo menos, é isso que todos pensam -, que derrete as calotas polares e mata metade da população mundial nas cidades litorâneas, como Nova York e Tóquio. Os sobreviventes vivem escondidos em novas cidades subterrâneas, pois se descobre que aquilo não era um meteoro e nem um acidente. Aquele ser era Adão, o primeiro anjo. 

Segundo a Bíblia, Adão foi o primeiro homem, um ser criado à imagem e semelhança de Deus, um ser perfeito. O pai de Misato tentou detê-lo transformando-o em um embrião, mas isso acabou gerando um segundo impacto (ou explosão, como preferir)  matando a todos que estavam no local. Apenas Misato sobreviveu. Entra então em ação a organização SEELE, que sabe o que está acontecendo devido às escrituras do Mar Morto, pergaminhos encontrados por um pastor beduíno na década de 40 e que mostravam o que estava acontecendo, prevendo o ataque dos anjos quando a humanidade ousa-se desafiar Deus. Tais livros existem mesmo e poucos sabem o conteúdo exato deles. Como alguns foram confiscados pela Igreja Católica, sendo quase todos escritos por autores desconhecidos ou nascidos muito tempo depois da morte de Jesus, eles são livros excluídos da Bíblia Tradicional que conhecemos. Entre eles, o mais famoso é o Evangelho segundo Jesus Cristo. São textos que já inspiraram outras histórias tais como o livro “O Código Da Vincci” de Dan Brown.

O segundo anjo é Lilith. Pegando de fundo a mitologia grega e as crenças judaico-cristãs, elas mostram Lilith como um ser criado por Deus do barro assim como Adão. Ou seja, uma irmã gêmea, criada para ser mulher dele. Na série, ela se torna prisioneira da NERV, mas todos pensam se tratar de Adão, o primeiro anjo. Ainda falando em religião, Lilith é vista como a mulher que traiu Adão e foi se aliar a Satanás. Para que a humanidade continuasse após a traição de Lilith, Deus criou Eva, para ser a nova companheira de Adão, esta a partir da costela do mesmo.

Os personagens percebem que a partir do DNA de Adão, são criados clones, os chamados EVAS, seres perfeitos, e os únicos capazes de derrotar os anjos que estavam por vir dos céus. Os anjos têm proteção contra os humanos. Então, só com o homem criando seus próprios anjos seria capaz de derrotar Deus. Está bem, entendemos tudo até então. Mas, como o homem teria tão bem dominada a técnica de clonagem?

Para pilotar os EVAS, são modificadas geneticamente 20 crianças que no ano de 2015, teriam 15 anos e se tornariam pilotos. Ao todo, o governo construiria 17 EVAS numerados de 00 a 16 para enfrentar os outros 15 dos 17 anjos que estavam previstos nas escrituras do Mar Morto. Mas, devido às dificuldades financeiras, o governo só conseguiu construir quatro EVAS, pois a SEELE escondeu a clonagem de EVAS do governo, que os considera máquinas e não seres orgânicos.

Porém o dinheiro, era na verdade usado para financiar o Projeto da Instrumentalização Humana, a clonagem de seres humanos iniciada no ano 2000.

Um desafio à vida e a Deus? Sim! E durante a série são vários os clones da personagem Rei que pilotam o EVA 00 — assim sendo, quando um morre logo pode ser substituído por um outro, e todos têm a mesma “alma” e personalidade serena. E mais, no decorrer dos episódios até o de número 24, descobrimos que Kaji é um espião na SEELE. Misato cai em depressão e vira alcoólatra. Ritsuko se revela aliada de Gendo. Ou seja, o suficiente para deixar o Papa de cabelos em pé!

Podemos dizer que Sadamoto tem uma forma mais simplista e menos melodramática de retratar suas personagens. O mangá atualmente esta tomando um direcionamento diferente de todas as outras mídias relacionadas a EVA (não tanto quanto o Rebuild, mas de modo a pensarmos que o mangá terá um final diferente de todos os outros finais.)

Já Hideaki, se importa em mostrar o quanto suas personagens são insatisfeitas com o seu passado, com as pessoas com quem convivem e as vezes, faz delas objetos de análise psicológica como ocorre no final do anime.

Nos últimos anos, Sadamoto tem se concentrado principalmente na criação de novas HQ's, ganhando muito só para assinar campanhas publicitarias que levam seu estilo junto, e foi peça chave como diretor e animador no filme Evangelion (1.0): Você não esta sozinho (You are [NOT] Alone nos EUA). Já Hideaki, está a frente do projeto de reconstruir o universo de Evangelion e pretende entregar 4 filmes com o melhor que a animação atual pode oferecer. De quebra, ele quer atender aos tantos que odiaram o final dado a série, seja pelo anime, seja pelo filme. Será que a Gainax cometerá a proeza de errar 3 vezes?

O mangá

Neon Genesis Evangelion 1#

Neon Genesis Evangelion, foi lançado pela Kadokawa Shoten, em fevereiro de 1995. Até então foram publicados 12 volumes (26 no Brasil). Num hiato de décadas, o autor resolveu continuar a história em meados de 2008, mas a mesma continuação incompleta.

Os outros mangás abordam visões mais amplas, diferenciando da obra original. Foram publicados no Brasil, até o momento, os mangás, Neon Genesis Evangelion e Neon Genesis Evangelion: The Iron Maiden 2nd.

Este segundo, por exemplo, trata Evangelion como uma serie Shoujo (mangá para meninas), dando um enfoque maior na relação dos personagens, do que nas lutas e as tramas que envolvem a Nerv.

O Rebuild

Capa brasileira de Rebuild of Evangelion 1.11: Você (não) está só

Em vários sentidos, o culto de “Evangelion” remete à série “Lost”. Ambas foram marcadas por tramas misteriosas e não conseguiram satisfazer aos fãs com seus finais, que deixaram de lado todos os detalhes relativos à ficção científica para mostrar que o mais importante são os personagens, seus sentimentos e seus traumas. A diferença é que houve uma chiadeira geral dos fãs de “Evangelion” e a Gainax acabou produzindo um longa-metragem para dar um fim de verdade à série, o chamado “The End of Evangelion” (1997). Seria o fim “oficial e defintivo”.

Mas não existe nada “oficial e definitivo” no Japão. E agora, com mais dinheiro no caixa, mais tecnologia e liberdade para mudar o que quiserem, os produtores têm pela frente o desafio de agradar aos fãs da série clássica, ao mesmo tempo em que precisam renovar a franquia para o século 21. E se a primeira parte não traz muitas mudanças na narrativa, servindo praticamente como resumo dos seis primeiros episódios da série, o mesmo não pode ser dito do segundo filme, que apresenta até personagens novos, entre outras surpresas.

Capa brasileira de Evangelion 2.22: Você (não) pode avançar

Essa idéia de fazer reboot da série na forma de filmes apareceu em meados de 2005. Os fãs da série sentiram-se bastante lisongeados com a noticia. Com uma utilização ampla de computação gráfica, muito bem mesclada a animação tradicional, tendência dos animes atuais, nascia ali "Rebuild of Evangelion", uma tetralogia (série com 4 filmes) que tinha como função agradar fãs, trazer o nome Evangelion dinovo para a midia e ganhar muito dinheiro. O lançamento do disco em Blu-ray do filme Evangelion 1.11 You are (Not) Alone, já aconteceu no Brasil, e pode ser adquirido em lojas especializadas em DVD ou em grandes livrarias. Já o filme Evangelion 2.22 You can (Not) Advance, que seria distribuido no Brasil pela Paris Films em meados de junho, não terá sua versão para Blu-Ray por causa do baixo número de vendas do primeiro filme aqui.

Evangelion e seus mistérios:

É humanamente impossível falar da trama de Evangelion e explicá-la sem contar os segredos da série. Tudo é armado de uma forma tão absurda que, depois de 14 episódios de batalhas intermináveis e apresentação dos personagens, inicia-se uma trama totalmente surrealista.

E para tanto, não poderia deixar de existir um guia geral sobre os mistérios e dúvidas que permeam a cabeça dos fãs a anos. O Red Cross Book foi o panfleto vendido nos cinemas àqueles que foram assistir o filme “End of Evangelion”, custando 800 yens.

Ele apresenta um resumo mais analítico de todos os aspectos estranhos, misteriosos e inexplicáveis para maioria das pessoas que assistem a série e ao filme The End of Evangelion. Para poucos, este livro pode ser considerado um resumo definitivo de tudo que a série EVA pôde mostrar, pois, para muitos, a mente do autor e o desejo de lucro de empresas relacionadas a marca, é o que move a criação e aprofundamento desta complexa trama para se não gerações futuras.

O livro possui formato A4 e uma orientação horizontal. A capa é preta com o título "Red Cross Book” e uma cruz jorgeniana sobreposta. O que faz deste livro particularmente especial e útil a todos os fans de Evangelion é o fato de que pela primeira vez a Gainax diz algo sobre o porque e como foram feitos os filmes (movies).

O livro também mostra respostas a algumas das perguntas mais debatidas em relação aos mistérios do anime.

EVA na cultura pop

Capa japonesa da Rolling Stone

Ao longo da série citações bíblicas não faltaram, como o símbolo da NERV que é uma folha (Adão e EVA usaram para se cobrir devido a vergonha ao se virem nus), mas ela está pela metade, mostrando que sempre ocultamos algo de nossa vida. Ou ainda que todos os EVAS, de alguma forma, têm alma dentro de si, como o EVA 01, que tem a mãe do Shinji (que morrera durante os testes da criação do robô); o EVA 02, que tem a mãe de Asuka (que se suicidou após o segundo impacto e deixando a menina traumatizada) dentre outros. A pergunta que fica é: Quem está no EVA 00? Seria Lilith? Afinal, os contos dizem que ela mata as crianças e todos os clones que entravam no EVA morriam. Não se sabe.

Já a lança usada para "matar" Lilith é chamada de Lança de Longinus, que na Bíblia, foi a lança usada pelo centurião romano Longinus para perfurar o corpo de Jesus Cristo, atestando sua morte. Diz à “lenda urbana” que ela sempre esteve nas mãos de grandes líderes, como Adolf Hitler, e que ela é a única coisa capaz de matar divindades. Se Shinji e Asuka eram como Cristo, ou seja, os salvadores da humanidade, então Rei e os clones seriam os anti-Cristos, descritos na Bíblia como os responsáveis pela ira de Deus e o fim do mundo? O anti-Cristo viria marcado pelo número 666 e que, quando ele nascesse, Deus destruiria a Terra. 

Cosplay de Rei Ayanami

Mas não só de citações bíblicas vive Evangelion. Os nomes dos anjos por exemplo, vêm de algumas ciências e do ocultismo, como Tarô, Cabala, Magia e a Alquimia (sendo está o principio da química.)Um exemplo disso é a expressão "Árvore da Vida", usada no filme de EVA. Essa tal árvore teria uma relação simbólica entre as árvores do além e a cruz de Cristo, ou seja, algo que nos devolve o paraíso.

Os personagens de Yoshiyuki Sadamoto tem contribuído tanto para a popularidade de Evangelion, que seus designs das 3 líderes femininas, Asuka, Rei e Misato, são puro merchandise (especialmente Rei, a "Premium Girl"), e eles tem sido imortalizados na comunidade dōjinshi (mangakas amadores e profissionais que fazem fan art, histórias próprias e muito mais sob influência de EVA) em modelos de kit de garagem, e em subseqüente em vários animes, como Burst Angel, .hack//Sign etc.

Fan art e bonecos em PVC

Eva influênciou a cultura pop e ganhou status de cult com referências em vários seriados não-nipônicos e animes em geral. No modo de aprofundar histórias em quadrinhos com uma trama que retrata problemas existênciais complexos, foi pioneira em mostrar de forma íntima a visão do mundo para cada personagem.

É isso. Espero que tenham gostado. Essa é só a primeira parte de uma série que estarei postando, então fiquem ligados.

Até mais!